Ao longo da muralha que habitamos
Há palavras de vida há palavras de morte
Há palavras imensas, que esperam por nós
E outras frágeis, que deixaram de esperar
Há palavras acesas como barcos
E há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras e nocturas palavras gemidos.
Palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Palavras diamantes
palavras nunca escritas
Palavras impossíveis de escrever
Por não termos conosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo
nem todo o amplexo do ar
E os braços dos amantes
escrevem muito alto
Muito além do azul onde oxidados morrem
Palavras maternais só sombra só soluço
Só espasmos só amor só solidão desfeito
Entre nós e as palavras, os emparedados
E entre nós e as palavras,
o nosso dever falar.
.......................................................................................................Heraclito de Epheso disse:
"O pior de todos os males seria a morte da palavra"
........................................................................................................
" Um homem pode enganar-se em sua parte de alimento.
Mas não pode enganar-se na sua parte de palavra"
Sophia de Mello Breyner Andersen, in : O nome das coisas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário